sábado, 30 de julho de 2011

De pescador pecador a pescador de pecadores – Lc 5: 1-11


Texto I
A sua Rotina de vida.
Vivemos épocas difíceis em que muitas pessoas buscam serem bem sucedidas naquilo que fazem – nas áreas profissional, estudantil, ministerial, familiar, financeira, relacional, emocional e espiritual. Somando-se a isso, muitos estão sujeitos a fracassos e frustrações por razões diversas, não conseguindo levar adiante seus empreendimentos, que há anos vêm trabalhando, lutando sem parar. A história a seguir é acerca de um pescador, que na Bíblia o conhecemos por Simão. Este homem teve uma experiência maravilhosa com Jesus, que o fez mudar de ofício, mudar de rumo, mudar de vida. Mas tudo começou em um dia que não passava de uma simples rotina qualquer.

Em Lucas 5. 1-11, o texto aborda acerca da pesca maravilhosa, o dia em que o mar não estava para peixe, mas Jesus realizou um milagre e reverteu esse quadro, deixando os pescadores maravilhados com tudo isso. Porém, no texto dessa semana (a primeira parte dessa série de textos sobre esse assunto), nos atentaremos apenas às ideias dos três primeiros versículos:
1 Certo dia Jesus estava na praia do lago da Galileia, e a multidão se apertava em volta dele para ouvir a mensagem de Deus. 2 Ele viu dois barcos no lago, perto da praia. Os pescadores tinham saído deles e estavam lavando as redes. 3 Jesus entrou num dos barcos, o de Simão, e pediu que ele o afastasse um pouco da praia. Então sentou-se e começou a ensinar a multidão...” (vv. 1-3)
A narrativa afirma que Jesus estava pregando na praia, à beira do lago da Galileia (também chamado de Mar de Genezaré, como também, Mar de Tiberíades, Jo 6.1 e 21.1) para uma multidão, que “se apertava em volta dele” com a finalidade de ouvi-lo. Há um contraste de ideias muito forte entre o ambiente em que Jesus estava (onde fica o Mar da Galileia) e a multidão presente. Por quê? Em primeiro lugar, o lago da Galileia é muito extenso, com quatro horas de comprimento e duas horas e meia de largura. É um local muito rico em peixes. A bela planície de suas margens é coroada com altas palmeiras. Enormes ciprestes sempre verdes erguem suas copas sobre as casas de Cafarnaum. Essa região do lago era e é um verdadeiro paraíso. Entretanto, os personagens que incrementavam esse cenário rico e belo eram, provavelmente, mais uma multidão sedenta vinda da própria comunidade praieira ou de lugares mais distantes, que, por curiosidade, por interesses pessoais, por necessidades físicas e espirituais, estavam interessadas em ouvir o que o Mestre tinha a falar. Incrível como não basta ter um ambiente rico e bonito, se seus habitantes estão famintos e sedentos da Palavra de Deus. Como existem pessoas sem esperança de levar a vida adiante, sem ter o que comer, sem saber se vai sobreviver nesse mundo de desigualdades, de injustiças e de pecado! Pessoas sem vida eterna! Como é absurdo saber que há pessoas que estão desesperadas por uma mudança em suas vidas, mesmo vivendo “às margens de um lago rico em peixes e de belas paisagens”.    

O texto prossegue com um diálogo inicial entre Jesus e Simão, o pescador, um homem trabalhador, dono de um barco que era a sua ferramenta de trabalho. Diz o texto que “Jesus entrou num dos barcos, o de Simão, e pediu que ele o afastasse um pouco da praia. Então, sentou-se e começou a ensinar a multidão.” (v.3). É preciso considerar algumas coisas, aqui: 1º) O Senhor entra no barco de alguém (do pescador Simão); 2º) O Senhor faz um pedido ao dono do barco (a Simão, o pescador); e 3º) O homem a quem pertence o barco não é chamado, ainda, de “Pedro”, mas de “Simão” (um simples pescador).

No texto dessa semana, portanto, nos deteremos apenas a essas três observações:

I - Jesus quer fazer parte da nossa rotina de vida.
“[Jesus] Entrando em um dos barcos, que era o de Simão..”. (v.3)

O Senhor entrou no barco de Simão. O barco era e é o local em que os pescadores mais concentram suas energias de trabalho, seu tempo dedicado ao sustento próprio e seus projetos. É uma segunda casa para este tipo de profissional. É onde se encontra a sua vida rotineira, as suas obrigações diárias, aquilo que se faz todos os dias – A ROTINA.

A rotina é algo presente no viver de qualquer pessoa. Até mesmo daqueles que querem passar o dia todo deitado em uma rede, ou sentado em uma cadeira na frente do computador, ou lendo um jornal, ou assistindo a um noticiário na TV. É o que a pessoa costuma fazer todos os dias, tendo ele produção, resultados positivos ou não, no final do dia. Somos pessoas rotineiras! E não há nenhum problema nisso. A problemática está quando nos envolvemos demais com a rotina diária, a tal ponto, que nos esquecemos de Jesus nas nossas vidas. O ativismo nosso de cada dia tem tomado as diretrizes para um “bem viver do ser humano”, mas tem causado muitos males, tais como: a canseira e a fadiga, a depressão, o isolacionismo, a falta do prazer diário e do descanso, a perda de oportunidades únicas da vida, como investir tempo em pessoas que realmente nos amam. Ter uma rotina não é errado. O problema é quando ela impede de experimentarmos a pessoa de Jesus nas nossas vidas. Por exemplo, as irmãs e amigas de Jesus: Marta e Maria. A primeira quis fazer uma média em cima da outra para ganhar elogios do Mestre, fazendo de sua rotina um excesso de atividades; já Maria optou pela “melhor parte” em deixar tudo de lado, e ficar aos pés do Senhor. Então, o amigo delas [Jesus] faz a seguinte observação: “Marta, Marta, você está agitada e preocupada com muitas coisas, mas apenas uma é necessária! Maria escolheu a melhor de todas, e esta ninguém vai tomar dela.” (Lc 10. 38-42).

Quando Jesus faz parte da minha rotina de vida, as prioridades mudam o ambiente de estudo, o ritmo de trabalho, de lazer e a nossa forma de vida, de planejamento, de vê as coisas tomando novos e bons rumos, novos significados. Onde está Jesus em minha casa, se não dedico um tempo de orar e ler a Bíblia com a minha família? Onde está Jesus em meu trabalho, se não permito que ele esteja direcionando a minha vida, profissionalmente? Onde está Jesus em meu namoro, se cedo para aquela vontade de ultrapassar dos limites de carícias? Onde está Jesus na hora de resolver os problemas, se quero partir para a grosseria? Onde está Jesus, se o pescador experiente do barco da minha vida sou eu mesmo? Onde está Jesus??

Simão havia permitido a entrada de Jesus em seu barco, em seu instrumento diário de trabalho, em seu ambiente de maior identificação com a sua pessoa – área de trabalho para um pescador – em sua rotina de vida. Queira você também que Jesus faça parte do seu viver diário.

II - Ofereço os meus recursos para o Reino de Deus, mas não me envolvo com o Rei desse Reino.
“[Jesus]... pediu [a Simão] que o [o barco] afastasse um pouco da praia; e, assentando-se, ensinava do barco as multidões.” (v.3)

Vamos imaginar o cenário montado: Jesus era o mensageiro do dia; a multidão era o público ouvinte; a praia era o plenário; e o púlpito era o barco de Simão. O Senhor faz um pedido ao pescador. Este cumpre o pedido – afasta o seu barco mais para dentro do mar. Simão, logo após afastar o barco, continuava a lavar as redes de pesca, após um dia de extenso trabalho, enquanto Jesus pregava à multidão. Apesar desse humilde pescador ser citado pelo nome na narrativa, ele não passava de um coadjuvante, até em tão, no meio da multidão; era apenas mais um pescador, que  cedeu seu barco, suas forças (ele empurrou o barco mais para dentro d`água) para aquele que prendia a atenção da multidão na praia. Assim como o proprietário do jumento que Jesus entrou em Jerusalém montado nele – Mt 21 - era um coadjuvante que havia cedido o animal; ou assim como o dono de uma sala (ou cenáculo) em que foi realizada a última ceia do Senhor Jesus com os doze apóstolos – Mt 26. 17-18 - era um coadjuvante que havia emprestado a casa; Simão, possivelmente, não tenha se achado no alvo da mensagem de Cristo, ali. Era apenas mais um perdido e frustrado em sua rotina. Talvez por não se identificar com a multidão, ou por está preocupado, ali, apenas com o resultado da pescaria do dia. Todavia deu recursos para a pregação de Jesus ser favorecida naquele local. Jesus desejava encontrar um lugar estratégico para observar seus ouvintes durante a pregação. O barco do pescador era esse local. Simão ofereceu seus recursos pessoais para Jesus, mas continuava lavando as suas redes.

É muito comum nos depararmos com essa realidade, hoje em dia, de um lado uma multidão querendo ouvir o evangelho de Jesus; do outro lado, apenas investidores do Reino de Deus, mas sem nenhum envolvimento direto, ou comprometimento com o Rei desse Reino. Eu entrego os meus talentos, as minhas economias, o meu serviço, o meu tempo, o meu louvor, a minha gratidão, a minha voz, o meu conhecimento bíblico e administrativo, as minhas habilidades de liderança, as minhas credenciais de servo, mas sempre à distância, sem muito aprofundamento, de maneira bem rasa, rasteira e irrelevante, e, muita das vezes medíocres, de maneira restrita, limitada. Eu já sou crente de domingo, de fim-de-semana, de igreja, não preciso ser mais do que isso nessa relação com Jesus.  É triste ouvir relatos como esses. Entretanto, Jesus já havia entrado na rotina de Simão, e isso era apenas o começo do que estava por vir. Não se engane ao permitir viver uma relação com Cristo limitada, mascarada, não autêntica, de fachada. Jesus quer fazer parte da sua vida de forma íntima e sincera. Não esteja motivado em mostrar apenas o serviço, se a sua alma anda angustiada, se seu coração está cansado, amargurado, se você anda frustrado por conta das surpresas da vida, sujo por conta do pecado desse mundo, sem ao menos se voltar para Cristo e, verdadeiramente, abraçá-lo em sua vida! Faça como Maria, irmã de Marta, que priorizou o Cristo da sua vida acima de toda e qualquer atividade ou pessoa!

Ofereça, sim, todos os seus recursos a Deus! Na certeza de que tudo pertence a Ele! Entretanto, faça isso na maior inteireza do seu ser. Afastar o barco para dentro d`água qualquer um faz; contudo, intimidade com Deus ninguém pode ter por você!!

III – Jesus quer trabalhar em meu viver a partir da pessoa que eu sou
“Entrando em um dos barcos, que era o de Simão...” (v.3).

Este é o velho e conhecido “Pedro”, mas esta terminologia ainda não havia sido exposta por Jesus em relação a ele. O homem a quem pertence o barco não é chamado, ainda de Pedro, mas de Simão. Na Bíblia, os nomes do povo de Deus carregavam um peso de significado por toda a vida de seus portadores. O nome trazia o sentido da personalidade de uma pessoa, indicando o seu caráter pelo resto da vida. “Jacó”, por exemplo, significa “usurpador, enganador”. Era exatamente aquele que havia tomado para si a bênção da primogenitura do pai, e barganhava com os homens; “Isaque” significa “riso”, exatamente a alegria trazida para seus pais, Sara e Abraão, depois de muitos anos sem ter um filho. Então, “Simão” (usado como forma grega do nome hebraico “Simeão”) significa “ouvindo”. Ele era ainda o “Ouvindo”, o “Simão”, o pescador, com sua cooperativa pesqueira, seu barco, sua rotina, suas contribuições limitadas, sua relação com o Mestre Jesus ainda de forma tímida. Porém, o “Pedro”, aplicado pelo próprio Jesus mais adiante, ainda estaria por vir.

Na nossa cultura ocidental, o nome que nossos pais nos deram foi no sentido meramente estético, sem nenhuma intenção de identificação com a personalidade a ser formada de cada um de nós. No entanto, independentemente disso, aprendemos que a presença de Jesus em nossas vidas é para ocorrer mudanças em nós (sentido de vida, caráter, pensamentos e atitudes). Jesus não nos encontra mudados, mas do jeito que somos: muitas vezes arrogantes, presunçosos, infiéis, imundos, negligentes, mentirosos, hipócritas, pecadores; pessoas presas às velhas manias de antes, com uma velha natureza, engessada, endurecida, pronta para ser quebrada ou desintegrada pelo pecado. E é desse jeito que eu e você devemos nos encontrar com Jesus, para Ele realizar uma mudança em nós.

É começando por Simão, que o Metre se volta para nós para fazer sua obra em nossas vidas. O “Pedro” pescador de almas perdidas ainda estava por vir. Mas, agora, Jesus quer tratar o “Simão” que existe dentro de cada um de nós: preso em sua rotina de vida; participativo para com as causas do Reino de Deus, porém sem nenhum envolvimento mais profundo com o Rei Jesus.

Mesmo que de forma cansativa, mal humorada e frustrada, você tente levar a vida adiante, saiba que nesta rotina (nesse barco de vida) sem a presença de Jesus, você não pode ir muito longe. Ele quer entrar em nossas vidas e nos moldar. Ele trás algo novo que possa vir a ocorrer em seu viver, mesmo que você “continue lavando as redes”, mesmo que você, até então, continue sendo “Simão, o pescador”. Jesus prega a sua mensagem, de dentro “do seu barco” (da sua rotina de vida). Ali era apenas o começo do que estaria para acontecer na vida de Simão. Lembre-se de uma coisa, o pescador pecador deixou Jesus entrar em seu barco. Ali era apenas o início da grande obra chamada Petrós (Pedro, que quer dizer pedra, rocha) que estava por vir; aqui é apenas o começo da obra que Jesus quer fazer na sua vida, também. Aceite Jesus em seu viver e dê um novo significado à sua rotina também.

Nas próximas semanas, daremos continuidade a essa série de estudos trabalhada em cima desse texto bíblico. Veremos acerca do desafio que Jesus faz a cada um de nós, em meio às adversidades. 
Deus te abençoe.
(Pr. Alan George de Oliveira Araújo - Pastor da Juventude SIBM)


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